22 de janeiro de 2014

Trecho da sequência de "Máscara", do Luiz Henrique Mazzaron


Você já deve saber que eu amei o livro Máscara, do autor nacional e parceiro do blog, Luiz Henrique Mazzaron. Caso você não saiba o quanto amo esse livro, cuide em ler a minha resenha sobre ele clicando aqui. Ajude o autor a lançar logo o segundo livro comprando o seu exemplar e também divulgando essa obra para todos os seus conhecidos leitores. Mas vamos ao que interessa!

Para comemorar a marca de 350 seguidores na fanpage Máscara no Facebook, o autor decidiu lançar um trecho do primeiro capítulo, do livro dois da série. Então deixe de frescura, clique nesse "Mais Informações" e leia tudo!
"A grama era tão fresca. A brisa, suave. As nuvens pareciam algodões. Estava naquela clareira novamente. Deitado ali, naquele tapete verde e orvalhado, pensou estar no céu, no Paraíso. Não estava mais no transatlântico Imperatriz de Atlântida. A embarcação havia explodido numa bola de fogo pouco após ele e seus amigos terem escapado num bote salva-vidas. Lembrava-se apenas das expressões de alívio nos rostos de seus companheiros antes de sentir uma dor lancinante no centro da testa e a escuridão invadir sua visão. Sua mente era um turbilhão confuso de fragmentos de lembranças que pareciam não se conectar. O que estava acontecendo com ele?

Ao levantar, pensou ver dois anjos surgirem num clarão em meio às arvores. Eram Isaac e Isadora, seus guardiões que sempre aparecer na hora mais oportuna para tentar lhe explicar algo que o atormentava. Ambos vieram até ele com uma expressão séria no rosto. Liam se endireitou e foi até eles.

-Olha o garotão! –Exclamou Isaac, dando uma chave de braço fraca em seu pescoço e um cascudo no topo de sua cabeça.
-Pare de criancice. –Interveio Isadora, contida como sempre. –Mas é sempre bom ver você, Liam.
Fez um cumprimento rápido com a cabeça, deixando seus óculos quase transparentes escorregarem pelo nariz fino. Depois, abriu seu enorme livro e procurou algo entre as inúmeras páginas amareladas. Enquanto isso, Isaac o libertou e escorou o braço em seu ombro.
-Você precisa se divertir um pouco também! Só estou feliz de ver que nosso protegido está bem.
-Também estou feliz, mas não é necessário um carnaval.
-Mas...
-Calado.

Isadora arrancou uma das folhas de seu livro e a amassou. Aproximou a bola de papel de seu rosto e cochichou algo para ela. Depois, lançou-a ao céu. A massa embolada de papel amarelado se desdobrou voluntariamente e, magicamente, se formou uma borboleta, que bateu suas frágeis asinhas e desapareceu na mata.

-O que foi isso? –Perguntou Liam, impressionado com a magia que havia acabado de presenciar.
-Você vai saber logo. –Respondeu Isadora. –Mas antes, sente-se, por favor.

Liam se virou e viu uma cadeira branca simples.

-Mas como?

Isaac lhe mandou um olhar de lado, pedindo que se sentasse logo e perguntasse depois. Liam se sentou e esperou. Isadora ajeitou seus óculos e se aproximou de Isaac, dizendo algo que ele não pôde ouvir. A expressão no rosto de Isaac se transformou e ficou séria. Ele pigarreou.

-Certo. Você obviamente quer saber o que está acontecendo aqui. Muito bem, vou explicar.

Estávamos esperando que você salvasse seus amigos do jogo no transatlântico para executarmos nosso plano. Dessa vez, ninguém poderá acordá-lo como antes. –Liam engoliu em seco. –Seu corpo estará em estado de coma profundo no Domus até que você cumpra o que deve ser feito. O “você” que está aqui agora é uma materialização da sua consciência, uma cópia mais do que fiel. Uma duplicata. Um clone. Um avatar.

-Portanto, preste bastante atenção no que vou dizer. Não quero assustá-lo, mas essa é a verdade: você está morrendo. –Confessou Isadora, curta e grossa.

Liam sentiu um frio subir pela sua espinha até chegar ao cérebro e congelá-lo. “Morrendo”?
-Como assim?

-Tivemos que fazer algo. Algo terrível, mas você não nos deixou escolha. –Explicou Isadora.
-A culpa é minha!? –Disse Liam, nervoso.
-Calma aí! Se ficar nervosinho não podemos explicar. –Interveio Isaac. –Lembra dos vários avisos que você recebeu de Isadora no navio? Você ignorou um e comeu aquele sanduíche. Aquilo foi como ceder sua vontade a Nero. Ao comer aquilo, sua alma foi corrompida e seu poder –Isaac abriu a mão e uma pequena chama dourada e resplandecente surgiu –foi igualmente corrompido. –Assoprou e a chama sumiu. –Tome o caso de Adão e Eva como exemplo.

-Certo, e ao invés de uma maçã eu comi o “sanduíche proibido”. Ok, acho que entendi. –Disse Liam, provocante.

Isadora ajeitou os óculos em um movimento nervoso e o fitou com aquele olhar de censura de gelar a alma.

-Seu poder começou a ser corrompido desde que você foi trazido para o Domus. Cada jogo e cada acontecimento foram arquitetados para devastar sua mente e alma. Um Iluminado como você, corrompido, pode se tornar uma arma inimaginável. Por isso, Nero quer que você seja corrompido até o último resquício. Seu poder é o maior entre todos os outros Iluminados. Imagine o que Nero faria...

-O que pode acontecer se meu poder for... sabe...
-Os acontecimentos no navio são um exemplo. Sua mente está em frangalhos, sólida como água. Isso combinado com um poder fora de controle é uma bomba relógio. A realidade se distorce e acontece o que aconteceu. Você deve se lembrar do quadro que te perseguiu. Os Perdidos aqui no Domus começam a ficar angustiados por não conseguirem contato com o Iluminado presente e começam a ter raiva, tornando-se extremamente perigosos. Você vira uma espécie de catalisador para a energia negativa deles. –Explicou Isadora.

Então ele estava se tornando um monstro. Uma arma que Nero iria usar. Sentia-se tão inútil e culpado por colocar seus amigos em um perigo tão constante. Sentia-se ainda mais culpado por ter ignorado Isadora no navio. Tudo era tão tentador lá. Desejava tanto por um momento normal que pouco se importara com sua guardiã. Encontrou diversão e suas comidas favoritas naquele transatlântico. Nero sabia que ele não iria resistir. Ele se entregou de bandeja ao inimigo.
Isaac limpou a garganta para lhe tirar de seus devaneios e continuou o discurso:

-Tudo o que pudemos fazer foi iniciar um processo chamado “Marca Lumini”. Enquanto você estiver aqui, a marca irá se espalhar pelo seu corpo no Domus até que toda sua superfície seja encoberta pela “marca” e sua alma, bem... –Seu olhar se tornou estranhamente sombrio. –Você não irá acordar mais e não poderá ser usado por Nero...
-Mas se passar no teste, seu poder retornará muito mais forte e você será capaz de acabar com Nero de uma vez por todas. Estará livre de toda a corrupção que reside em seu corpo e poderá seguir com sua vida! –Concluiu Isadora, confiante.

Liam estava tenso, sua boca estava seca. Aquele era um momento em que desejava chorar e gritar, proferir as mais diversas obscenidades contra o Universo. Porque ele, justo ele tinha que estar passando por tudo aquilo? Ele só queria uma vida normal...

-E do que se trata esse teste? –Perguntou em um murmúrio.
-Uma peregrinação pelo mundo de Illusa. –Respondeu Isadora. –Você deve recolher todos quatro os Selos de Luz. Eles irão lhe dar a força que você precisa para se reeguer. Essa não será uma tarefa fácil; eles estão espalhados em quatro lugares diferentes, e são objetos de grande valor às pessoas que os protegem.
-Você deve ser rápido. Há muita coisa em jogo. –Alertou Isaac.
-Devo fazer uma observação. –Interrompeu Isadora. –Durante sua jornada, uma das filhas de Nero poderá interferir. Ela vai querer vingança por você ter eliminado sua irmã lá no navio. E não se esqueça que Sayako é uma mestra na arte da manipulação da mente. Já que você está “dormindo”, ela com certeza irá invadir sua mente e usar suas fraquezas para atrapalhá-lo. Portanto, cuidado.
Isaac fingia que roncava e estava com a cabeça tombada para trás. Isadora lhe lançou um olhar furioso. Isaac percebeu o perigo e retornou a sua postura normal.

-Foi mal! –Exclamou com um olhar divertido. –E mais uma coisa, Liam. Seu corpo, mesmo sendo uma duplicata exata do original que está no Domus, é tão real quanto o outro. Você vai se machucar de verdade se por acaso se cortar, por exemplo. Trate de se cuidar!

A mente de Liam girava com tanta informação. Tudo estava sendo empurrado goela abaixo e ele não conseguia entender direito. Entendera que se não cumprisse essa “prova” ele iria morrer. Além disso, seu corpo atual era uma materialização da sua consciência. E obviamente ele poderia muito bem morrer enquanto buscava os tais Selos. Meu Deus! Ele estava tão ferrado! Por que tinha que ser ele o “escolhido”? Há tantas pessoas no mundo! Estava se sentindo tão injustiçado que tinha vontade de se enterrar e viver em sua discórdia. Mas essa raiva... Estaria sendo a corrupção dentro dele que o estava tornando uma pessoa tão diferente da qual fora antes?

-Espere...
-Boa sorte. –Disse Isaac, acenando sorridente.
-Vamos ver se você merece continuar. –Isadora parecia soturna e desafiadora.

Mãos vermelhas e sombrias brotaram da terra, agarrando suas pernas e o puxando para baixo. Isaac e Isadora apenas olhavam enquanto ele era engolido pela terra e desaparecia na grama fresca sem deixar vestígios.

Tudo o que sentiu depois de ser engolido pelo solo foi uma tremenda sensação de nada. Ele parecia oco enquanto era tragado ainda mais fundo para o mundo desconhecido de Illusa."

Quem aí leu o primeiro já está ansioso para essa continuação? Pelo visto o Liam só vai se ferrar mais ainda, só que agora num mundo diferente à procura dos Seis Signos da Luz... não, brincadeira. O livro ainda não tem data de lançamento.

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